A caminhada da auto-descoberta leva-nos por uma jornada que tem tanto de complexa como de fascinante. Assim que passamos do plano da curiosidade para um plano de busca madura pela Verdade, descobrimos que um dos passos fundamentais para a nossa evolução é fazer a vontade de Deus.
Na tradição cristã, esta ideia é captada pela famosa frase "Seja feita a Vossa vontade," que a cultura portuguesa incorpora no seu dia-a-dia com a expressão comum "se Deus quiser."
Na tradição Sufi, um dos conceitos fundamentais é ikhlas, que implica pureza interior, sinceridade e um amor genuíno por Deus. Este conceito engloba a ideia de que todas as acções do aspirante são feitas exclusivamente para o deleite de Deus, sem qualquer interesse pessoal.
Na tradição ancestral do Yoga, este mesmo conceito é ilustrado pela história intemporal de Krishna e Arjuna, narrada no clássico Bhagavad Gita. Este texto trouxe ao mundo a revelação fundamental do sistema de Karma Yoga.
De acordo com este texto, existem três tipos de acção que aqui adaptamos numa linguagem simples:
- Acções lentas: são ações sem consideração pelas possíveis consequências, adiadas, prejudiciais, ou demasiado teóricas, sem aplicabilidade imediata. (Bhagavad Gita, 18.25)
- Acções rápidas: são executadas com grande esforço, buscando gratificação egoísta, motivadas por desejos e apegos, dominadas pela impetuosidade. (Bhagavad Gita, 18.24)
- Acções eficientes: realizadas em tempo útil, com um mínimo de recursos, sem atracção ou repulsa, e executadas com extrema rapidez e num estado de leveza interior. (Bhagavad Gita, 18.23)
Observar o tipo de acção que executamos mais frequentemente é um indicador importante do ponto onde nos encontramos e de qual será o próximo passo na nossa jornada espiritual.
Se, predominantemente, falhamos prazos, quebramos promessas, chegamos atrasados, sentimos que fazemos muito mas obtemos poucos resultados práticos, damos por nós a falar horas sobre algo que é necessário fazer em vez de agir, ou iniciamos acções que nunca terminamos, provavelmente estamos numa predominância de acção lenta.
Podemos quebrar este ciclo tornando-nos mais expeditos, comprometendo-nos com acções prolongadas que cumprimos até ao fim ou, simplesmente, dinamizando-nos imediatamente para a acção e só depois avaliando como podemos melhorar.
Se, predominantemente, aceitamos mais responsabilidades do que conseguimos realizar, sentimos uma pressão excessiva de tarefas a cumprir, desconsideramos o nosso descanso e as nossas necessidades pessoais em prol do trabalho, ressentimos colegas que fazem menos e, ainda assim, conseguimos obter sucesso na maioria das vezes — embora à custa de um esgotamento físico ou psicológico —, estamos provavelmente sob a predominância de ações impetuosamente rápidas e prejudiciais.
Podemos quebrar este ciclo dando prioridade ao nosso descanso, cuidado e regeneração. Já somos produtivos, mas de pouco adianta sermos produtivos a ponto de adoecer. Acrescentar o cuidado de nós mesmos como parte integrante das nossas ações trará uma nova dimensão de eficiência.
Finalmente, se a maioria das nossas tarefas quase que "aparecem feitas," se objetivamente observamos muitos resultados à nossa volta, sem que sintamos grande esforço, e se sentimos leveza, entusiasmo e clareza nos projetos que abraçamos, é provável que estejamos dominados por acções eficientes, realizadas numa atitude lúcida e desapegada.
Grande parte da jornada espiritual é vivida entre ações rápidas, que nos esgotam e frustram, e fases de ações lentas, ou mesmo uma abstenção completa de participação ativa. Se nutrirmos este processo com Amor, vamos oscilando entre uma e outra numa espiral ascendente que, eventualmente, nos conduz ao conhecido estado de Karma Yoga.
“Realizar o próprio dharma, sem apego aos resultados, é a forma mais elevada de yoga, pois purifica a mente e conduz à libertação.” (Bhagavad Gita, 18.46)
Todas as tradições espirituais oferecem aos seus aprendizes a oportunidade de praticar este tipo de acção eficiente, incentivando-os a ajudar ativamente a comunidade em que estão inseridos. Não basta falar, nem basta fazer. É preciso praticar para realmente Ser.
“Por isso, ó Arjuna, entrega-Me todos os teus trabalhos, com a tua mente concentrada no Ser, livre de desejos e apegos. Luta sem qualquer apego ao teu ego”. (Bhagavad Gita, 3.30)