SHAKTI ou MAHA SHAKTI representa a energia cósmica primordial, o princípio feminino supremo que anima e impregna toda a criação. É a força vital que vibra no coração do universo e no âmago de cada célula viva. Ela não é apenas uma expressão da divindade — Ela é a divindade em toda a manifestação. É o aspeto dinâmico e imanente do Absoluto, de Deus, que se revela em infinitas formas, cores, emoções, expressões, ciclos e ritmos.
SHAKTI é a dança da criação, da manutenção e da destruição. O poder que gera mundos e dissolve ilusões. É a espiral eterna que se desenrola no tempo e no espaço. Em união com SHIVA — o princípio masculino, o silêncio eterno e transcendente — Ela manifesta o universo. Mas mesmo sem SHIVA, SHAKTI permanece plena (ainda que em caos), pois na sua essência Ela carrega o TODO.
MAHA SHAKTI é o oceano do qual tudo emerge, vive e retorna. É a mãe cósmica, matriz universal, a yoni sagrada do infinito. Ela é KALI, que corta os véus da ignorância; TARA, que guia com compaixão; TRIPURA SUNDARI, que seduz com a beleza da verdade; BHUVANESHWARI, o espaço infinito onde tudo acontece. É também CHINNAMASTA, que revela o êxtase do sacrifício do ego; TRIPURA BHAIRAVI, o fogo intenso da transmutação; DHUMAVATI, a sabedoria do vazio beatífico; BAGALAMUKHI, a que silencia o caos; MATANGI, o som sagrado da criação; e KAMALATMIKA, a abundância e riqueza do espírito.

Cada uma destas expressões femininas, conhecidas como as Dez Mahavidyas ou Grandes Poderes Macrocósmicos, são portais para estados arquetípicos do feminino divino, revelações de MAHA SHAKTI como múltiplas faces do mesmo diamante cósmico.
A mulher desperta, consciente da sua shakti, da sua energia torna-se canal da criação e da destruição, da sabedoria e da paixão, da cura e da revelação. O seu corpo é templo. Os seus olhos, espelhos do eterno. O seu útero, altar vivo do cosmos. A sua yoni é a porta do espírito para o mundo físico — a MAHA YONI, o mandala da manifestação divina. Em cada batida do seu coração ecoa o OM primordial.
Shakti é também kundalini, a serpente sagrada adormecida na base da coluna, aguardando ser despertada para subir pelos chakras e unir-se ao seu amado no Sahasrara, o lótus de mil pétalas. Esta união é o casamento sagrado entre céu e terra, entre espírito e matéria, entre Deus e a Mãe Divina. Um êxtase que dissolve dualidades e revela o eterno.
Na mulher desperta, esta energia é viva, pulsante, criadora. Ela expressa a sabedoria intuitiva, o conhecimento antigo do corpo, o poder de cura através da presença, da palavra, do toque e do silêncio. Ao mesmo tempo, é destruidora do velho, das máscaras, das estruturas que já não servem. A mulher que incorpora shakti torna-se uma revolução viva — suave como o néctar da lua, feroz como o fogo da transformação.
Shakti manifesta-se na dança da vida, nos ciclos menstruais, no nascimento, na morte, no prazer, na criação artística, na fúria justa e no amor incondicional. É o princípio da imanência — Deus em forma. Tal como a Shekinah na tradição mística hebraica, ou como Sophia no gnosticismo cristão, Mahashakti é o rosto visível do invisível, a presença do Eterno no mundo sensível.
Mahashakti é também a ponte entre o imanente e o transcendente. Um espelho sagrado que reflete o absoluto (Deus, Brahman, Shiva) em mil formas e matizes. Através Dela, o espírito toca a matéria, e a matéria recorda o espírito. Como ensina o Taoismo, é através do Yin (feminino) que o Yang (masculino) encontra equilíbrio — numa dança eterna de opostos complementares.
Na união com o masculino sagrado, shakti não se submete — ela celebra. O encontro verdadeiro entre o feminino e o masculino sagrados é alquimia. É transfiguração. É portal para o divino. A mulher que conhece os mistérios da sua yoni torna-se sacerdotisa, guia e iniciadora — capaz de despertar o Deus no outro, como a flor que revela o sol apenas por abrir-se.
Na total entrega à sua própria essência, a mulher consciente da shakti que é e manfiesta realiza o mistério maior: que Ela nunca esteve separada do divino. Que Ela é o próprio caminho, a própria verdade, a própria luz. E que ao recordar-se, toda a criação canta com Ela.
