Este belíssimo texto foi escrito por Paramahansa Yogananda após as revelações que teve num profundo estado de Samadhi:
"Procurei o amor em muitas vidas. Derramei lágrimas amargas de separação e arrependimento para saber o que é o amor. Sacrifiquei tudo, todo apego e ilusão, para finalmente aprender que estou apaixonado pelo Amor – por Deus – e nada mais. Então, bebi amor através de todos os corações verdadeiros. Vi que Ele é o Único Amante Cósmico, a Fragrância que permeia todas as flores diversas de amor no jardim da vida.
Muitas almas perguntam-se de forma melancólica e impotente porque é que o amor passa de um coração para outro; as almas despertas compreendem que o coração não é volúvel ao amar diferentes pessoas, mas está a amar o único Amor-Divino que habita em todos os corações.
O Senhor murmura silenciosamente: “Eu sou o Amor. Mas para experimentar o dar e o receber do amor, dividi-Me em três: amor, amante e amado. O Meu amor é belo, puro, eternamente jubiloso; e saboreio-o de muitas formas, através de várias expressões.
Como pai, bebo o amor reverente da nascente do coração do meu filho. Como mãe, bebo o néctar do amor incondicional do cálice-alma do bebé pequenino. Como filho, recebo o amor protetor da justa razão do pai. Como bebé, bebo o amor sem causa do santo graal da atração maternal. Como mestre, saboreio o amor simpático do frasco do cuidado do servo. Como servo, sorvo o amor respeitoso do cálice da apreciação do mestre. Como guru-preceptor, desfruto do amor puríssimo do cálice da devoção total do discípulo. Como amigo, bebo das fontes espontâneas do amor desinteressado. Como amigo divino, sorvo as águas cristalinas do amor cósmico do reservatório dos corações que adoram Deus.
Estou apaixonado pelo Amor, e nada mais, mas deixo-Me iludir quando, como pai ou mãe, penso e sinto apenas pelo filho; quando, como amante, me preocupo apenas com o amado; quando, como servo, vivo apenas para o mestre. Mas, porque amo o Amor e só o Amor, eventualmente quebro esta ilusão dos meus incontáveis Eus humanos. É por isso que levo o pai para a terra astral quando ele esquece que é o Meu amor, e não o dele, que protege o filho. Elevo o bebé do peito da mãe, para que ela possa aprender que era o Meu amor que adorava nele. Transporto o amado para longe do amante que imagina que é ela que ele ama, em vez do Meu amor a responder nela.
Assim, o Meu amor brinca às escondidas em todos os corações humanos, para que cada um possa aprender a descobrir, e adorar, não os recipientes humanos temporários do Meu amor, mas o Meu próprio amor, dançando de um coração para outro.
Os seres humanos imploram uns aos outros: ‘Ama-me apenas a mim’, e então arrefeço os seus lábios e selo-os para sempre, para que nunca mais pronunciem esta falsidade. Porque todos são Meus filhos, quero que aprendam a falar a verdade suprema: ‘Ama o Único Amor em todos nós’. Dizer a outro: ‘Eu amo-te’ é falso até que compreendas a verdade: ‘Deus, como o amor em mim, está apaixonado pelo Seu amor em ti’.
A lua ri-se de milhões de amantes bem-intencionados que, sem o saberem, mentiram aos seus amados: ‘Amo-te para sempre’. Os seus crânios estão espalhados sobre as areias sopradas pelo vento da eternidade. Já não conseguem usar o fôlego para dizer: ‘Amo-te’. Já não conseguem lembrar-se ou cumprir a promessa de se amarem para sempre.
Sem dizer uma palavra, amei-te sempre. Apenas Eu posso realmente dizer ‘Eu amo-te’; porque amei-te antes de nasceres; o Meu amor dá-te vida e sustenta-te mesmo neste instante; e apenas Eu posso amar-te depois de os portões da morte te aprisionarem, onde ninguém, nem o teu maior amante humano, pode alcançar-te.
Eu sou o amor que dança marionetas humanas nos cordéis das emoções e dos instintos, para representar o drama do amor no palco da vida. O Meu amor é belo e infinitamente prazeroso quando O amas apenas a Ele; mas o fio que liga a tua paz e alegria é cortado quando, em vez disso, te enredas na emoção e no apego humano. Percebe, Meus filhos, que é o Meu amor que ansiais!
Aqueles que Me amam apenas numa pessoa, ou que Me amam imperfeitamente numa pessoa, não sabem o que é o Amor. Só conhecem o Amor aqueles que Me amam sabiamente, sem falhas, completamente, com total entrega – que Me amam perfeita e igualmente em todos, e que Me amam perfeita e igualmente como sendo todos.”"
The Divine Romance, página 445, edição de 1965